terça-feira, 9 de setembro de 2014

Palavras Finais - parte 1

As notas diárias anteriores foram sempre escritas na emoção com o corpo e a mente cansados. Mas foram legais que tem mais sentimento e menos ponderação.
Porém tem algumas coisas que deixei passar ou passei superficialmente mas que não poderia deixar passar em branco.

O Clima
Um dos meus maiores temores não aconteceu. Fomos priveligiados com um clima fantástico que nos propiciou um pedal fantástico visões inesquecíveis e indescritíveis de lugares por onde passamos. Ouvi de um experiente técnico que acompanhava uma equipe que nunca vira um horizonte tão limpo no topo do Tourmalet no dia da prova contra o relógio. As manhãs eram bem frias para o padrão brasileiro com temperaturas pouco abaixo dos 10 graus, e com picos ao longo do dia em torno dos 30 graus. E nenhuma gota de chuva. Só para se ter uma idéia do timing perfeito, na cerimônia de encerramento caia uma tempestade com relâmpagos, trovões e muito vento.

Problemas Mecânicos
Tive dois problemas mecânicos que poderiam ter sido gravíssimos mas que ao final não me consumiram mais do que alguns poucos minutos de corrida e alguma preocupação a mais. O primeiro aconteceu no segundo dia logo no início da subida mais forte. Senti meu pedal travar numa parte bem íngreme da subida. Quase caí mas consegui girar um pouco o pedal para poder desclipar. Parei e respirei fundo pra entender o que estava acontecendo. Tirei a roda de trás e coloquei de novo e ela voltou a girar. Segui a prova, mas algum tempo depois a acontece de novo fiz o mesmo procedimento e segui sem saber muito bem o que tinha acontecido. E aí vi o que aconteceu. O passador traseiro empenou um pouco e estava raspando no raio da roda. Problema que me foi rondando o resto daquele dia. Até o Luis, meu companheiro de quarto, com seus anos e anos de experiência, bater o olho e ver qual era o problema. Ele desempenou na mão e regulou o meu passador traseiro. Além de lubrificar a corrente. Mas tive muita sorte pois depois aprendi que existe uma peça que se chama gancheira e que funciona como um fusível para não danificar o quadro nem o passador. É uma peça muito específica por modelo e ano da bicicleta. Ou seja, se ela quebra eu ia ficar sem bicicleta.
O segundo problema foi no 6o dia. Estava na descida mais de 60km/h quando a minha roda traseira endureceu como se tivesse freiando forte, quase travando a roda. Consegui controlar e parar a bicicleta. Logo achei que tinha furado o pneu, mas não tinha passado por nenhum buraco nem tinha ouvido a câmara explodir. Desse vez o pedal estava livre mas a roda não girava. Mas meu pneu estava com um sulco bem no meio em toda a sua banda de rodagem. Mexendo e observando encontro uma pedrinha que se alojou entre o pneu e a pinça do freio. Criando um freio de pedra e cortando o meu pneu. Sorte que eu parei antes que a pedra comesse toda a banda de rodagem, rasgando meu pneu. E até o final desse dia ainda aconteceu mais uma vez. Mas olha como são as ironias da vida. Estava com um pneu de 25 mm atrás para me dar mais estabilidade nas descidas mas como é maior o espaço entre o pneu e o freio é menor. Ou seja, o que era pra me proteger quase gera acidente.

O Luis Sequeira
Eu não podia ter tido um companheiro de quarto melhor. Na verdade ganhei um técnico, um mecânico, um psicólogo e um amigo. O Luis foi ciclista profissional por mais de 10 anos. O cara mais tranquilo e organizado que conheci até hoje. Me ajudou técnica e psicologicamente. Me tranquilizou durante os momentos que passamos juntos antes de dormir, ao tomar café,  ou passeando pela cidade, pois durante o pedal o Luis sempre chegava em menos da metade do meu tempo...ou seja mais do que o dobro da minha velocidade!!! Fiz muitas perguntas de técnicas de pedal, de mecânica, de estratégia, de comida, de hidratação, de equipamentos,  entre outras que ele sempre me respondeu com muito prazer e muita calma. Valeu Luís. Espero poder retribuir e vê-lo em breve.

Passeando em Biarritz

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